A erosão de uma grande montanha dá lugar a uma superfície, sob a qual permanecem as suas raízes. Uma vez anulado o peso correspondente a essa montanha, esta superfície começa a elevar-se, e toda a área aplanada ganha altitude, adquirindo as características de um planalto. Trata-se de uma situação comum a todos os continentes e que temos aqui na Península Ibérica. A maior parte do território ocupado por Portugal e pela Espanha é o que resta do arrasamento de uma importante cadeia montanhosa formada no sul da Europa há mais de 300 milhões de anos. Este importante enrugamento da crosta, tão grandioso como os Alpes, ou talvez mais, foi quase totalmente erodido ao longo de tão dilatado espaço de tempo que se seguiu, transformando-se na altiplanura que caracteriza a Meseta Ibérica. Esta superfície elevada está basculada, descendo de nordeste para sudoeste. Dos planaltos de Castela-a-Velha e do Nordeste Transmontano, alguns a mais de 1000m de altitude, desce-se gradualmente até à planície do Baixo Alentejo, à cota média de 200m. Esta diferença de altitudes reflecte-se no carácter mais vigoroso do relevo do norte do país. Aí, os vales são mais profundos e quem viaja por estrada, percorrendo curvas e contracurvas, a subir ou a descer, interioriza uma sensação de relevo montanhoso, que contrasta com a que experimenta nas confortáveis rectas do Sul.
segunda-feira, 30 de junho de 2008
Como na banheira de Arquimedes
A erosão de uma grande montanha dá lugar a uma superfície, sob a qual permanecem as suas raízes. Uma vez anulado o peso correspondente a essa montanha, esta superfície começa a elevar-se, e toda a área aplanada ganha altitude, adquirindo as características de um planalto. Trata-se de uma situação comum a todos os continentes e que temos aqui na Península Ibérica. A maior parte do território ocupado por Portugal e pela Espanha é o que resta do arrasamento de uma importante cadeia montanhosa formada no sul da Europa há mais de 300 milhões de anos. Este importante enrugamento da crosta, tão grandioso como os Alpes, ou talvez mais, foi quase totalmente erodido ao longo de tão dilatado espaço de tempo que se seguiu, transformando-se na altiplanura que caracteriza a Meseta Ibérica. Esta superfície elevada está basculada, descendo de nordeste para sudoeste. Dos planaltos de Castela-a-Velha e do Nordeste Transmontano, alguns a mais de 1000m de altitude, desce-se gradualmente até à planície do Baixo Alentejo, à cota média de 200m. Esta diferença de altitudes reflecte-se no carácter mais vigoroso do relevo do norte do país. Aí, os vales são mais profundos e quem viaja por estrada, percorrendo curvas e contracurvas, a subir ou a descer, interioriza uma sensação de relevo montanhoso, que contrasta com a que experimenta nas confortáveis rectas do Sul.
Que futuro para a Politécnica?
A Viagem (I)
A armada parte do rio Tejo em 8 de Julho de 1497. Embora escreva muitos anos depois deste evento, talvez porque terá assistido a muitas partidas das naus da carreira da Índia, João de Barros logra transmitir o ambiente psicológico em que tem lugar a primeira de todas elas: «E quando veio ao desfraldar das velas, que os mareantes, segundo seu uso, deram aquele alegre princípio de caminho, dizendo: <Boa viagem!>, todos os que estavam prontos na vista deles, com uma piedosa humanidade, dobraram estas lágrimas e começaram de os encomendar a Deus e lançar juízos, segundo o que cada um sentia daquela partida.
»Os navegantes, dado que com o fervor da obra e alvoroço daquela empresa embarcaram contentes, também passado o termo no desferir das velas, vendo ficar em terra seus parentes e amigos, e lembrando-lhes que sua viagem estava posta em esperança, e não em tempo certo nem lugar sabido, assim os acompanhavam em lágrimas como em o pensamento das coisas que em tão novos casos se representam na memória dos homens. Assim que, uns olhando para a terra e outros para o mar, e juntamente todos ocupados em lágrimas e pensamento daquela incerta viagem, tanto estiveram prontos nisso, até que os navios se alongaram do porto.»
"Vasco da Gama - O Homem, A Viagem, A Época", Luís Adão da Fonseca, Edição do Comissariado da Exposição Mundial de Lisboa de 1998 e da Comissão de Coordenação da Região do Alentejo, 1997, pp. 109 e 112
sábado, 28 de junho de 2008
Tudo depende...
José Marinho
sexta-feira, 27 de junho de 2008
Onde as cabras “comem pedras”
Foi há pouco tempo, na terra dos faraós, junto de um entre os muitos templos diariamente devassados por turbas de turistas. Ali, num terreno aberto, pedregoso e poeirento, sem uma erva à vista, dei por mim a observar duas cabras de focinho colado ao chão, no mesmo jeito que aqui, na nossa terra, as suas irmãs trincam as plantinhas mais rasteiras. À primeira vista, dir-se-ia que estavam a comer pedras. Mas não! O que estas pobres procuravam era o lixo, ocasionalmente entalado sob as pedras soltas do chão e, assim, não varrido pelo vento. Os animais desviavam as pedras e comiam o que lá encontravam: um pedaço de papel ou de plástico, um rolo de cabelos, um farrapo de algodão, tudo o que Osíris, encarnação das forças da terra e das plantas, concede pôr ao seu alcance.
O antigo Corporativismo
Julius Evola
in "Los Hombres y las Ruinas", Ediciones Heracles
O Preste João e Pêro da Covilhã (V)
De qualquer modo, Vasco da Gama leva instruções sobre o que deve fazer. Damião de Góis alude a um regimento a propósito da navegação atlântica depois de Cabo Verde (já no local próprio o referi), e volta a citá-lo no momento em que relata a passagem da armada na costa do Natal: «No dia 25 de Dezembro», escreve, «acharam que tinham navegado setenta léguas a leste, que era o rumo a que haviam de ir buscar a Índia, como o levava Vasco da Gama por regimento.»
De facto, é impossível optar por uma resposta. Não se sabe que tipo de informação teria Pêro da Covilhã enviado a D. João II; nem sequer se sabe se chegou alguma ao conhecimento do monarca. Vasco da Gama tem instruções sobre o que deve fazer, leva um regimento, mas não se sabe nada sobre o seu conteúdo. Finalmente, não se sabe se Álvaro Velho teria acesso a toda a informação de que dispunha Vasco da Gama: que saberia ele, realmente, do destino da viagem, para além da informação vaga de que se dirigiam à Índia? Importa reconhecer que o esclarecimento deste assunto terá de voltar ao princípio.
"Vasco da Gama - O Homem, A Viagem, A Época", Luís Adão da Fonseca, Edição do Comissariado da Exposição Mundial de Lisboa de 1998 e da Comissão de Coordenação da Região do Alentejo, 1997, p. 156
quinta-feira, 26 de junho de 2008
O Preste João e Pêro da Covilhã (IV)
Há, aliás, um outro elemento, um pouco perturbador. De facto, o relato de Álvaro Velho só fala de Calecute depois da frota ter estado em Melinde: «À terça-feira, que foram vinte e quatro do dito mês, nos partimos daqui, com o piloto que nos el-rei deu, para uma cidade que se chama Calecute, da qual cidade el-rei tinha notícia.»
Quererá isto dizer que as crónicas, quando dizem que Vasco da Gama tem, desde o princípio, o objectivo de se dirigir a Calecute, estão a projectar, para a fase anterior a Melinde, a informação que só nesta cidade lhe teria sido dada? É possível. Mas nada prova que, pela notícia transcrita do «diário» de Vasco da Gama, se demonstre que só então tiveram conhecimento da existência de Calecute, embora assim possa ser interpretado. Aliás, o autor do «diário» poderia ignorar o destino da frota, só conhecido de Vasco da Gama e dos capitães…
A circunstância de que não tenha chegado ao nosso conhecimento o texto do relatório de Pêro da Covilhã não significa necessariamente, nem que tal relatório não foi recebido, nem que, tendo-o sido, foi silenciado pela política do sigilo (como pensa Jaime Cortesão). Como Banha de Andrade já chamou a atenção, desaparecimento semelhante ocorreu em relação aos papéis de Bartolomeu Dias, e desses temos a certeza que chegaram e que foram lidos e estudados; até o próprio Colombo os viu. Aliás, é óbvio que existe uma mesma intencionalidade nas três expedições enviadas ao Índico pelo rei de Portugal nos finais do século XV: a de Pêro da Covilhã, a de Bartolomeu Dias e, finalmente, a de Vasco da Gama.
"Vasco da Gama - O Homem, A Viagem, A Época", Luís Adão da Fonseca, Edição do Comissariado da Exposição Mundial de Lisboa de 1998 e da Comissão de Coordenação da Região do Alentejo, 1997, pp. 155 e 156
Carlos Pato: a morte em Caxias há 58 anos
Vejo-te ainda... Vejo-te sempre! Compreensivo e digno, amoroso e forte, aberto às melhores promessas dos nossos dias, sensível à dor alheia, rebelde para as injustiças, e bom, sempre bom, com esse sorriso tão suave que era a imagem de ti próprio, que era o reflexo dum coração onde não cabia o ódio nem a cobardia... Vieste com a mesma simplicidade dos camponeses que idolatravas, dos camponeses que eram carne da tua carne, e de quem herdaste essa calma interior, e essa espantosa força interior, que faz de cada um deles um herói sem nome – e que faz de todos eles a grande certeza, onde se alicerçou a independência nacional, e donde surgirá a pátria livre que ambicionavas para todos nós. Nem esse maravilhoso heroísmo te faltou – o dos sacrifícios anónimos e dos sonhos guardados mas nunca esquecidos, que tu, mais do que eles ainda, quiseste tornar vida.
Vejo-te ainda... E sempre! Como um desses homens que traz o futuro no coração, e para quem o futuro não é essa coisa mesquinha do egoísmo individual – do meu ou mesmo do nosso – mas essa seara sublime de espigas sem dono que o mundo todo guardará para si... Como um desses homens que não mede a vida da humanidade pela sua vida, e que se lhe exigem a sua, para que a outra seja mais digna de ser vivida, a oferece sem hesitações, alheio a recompensas... Como um desses homens a quem o cientista deve o seu laboratório, o artista a sua obra, o escritor os seus livros, as mães o direito de criarem os filhos nos seus braços e de os entregarem, só depois, puros, belos e dinâmicos para as tarefas da paz...
Como um desses homens para quem os poetas escreveram os seus poemas... Um José Gomes Ferreira: Volta-te e olha para a terra // - a carne da tua sombra //de flores acesa //Céu para quê?// O céu é para os que esperam //E tu morreste por uma certeza!
Ou um Carlos de Oliveira: Mais vivo porque sofreste //A morte não veio, foi-se // A eternidade constrói-se // Na beleza com que viveste.
Ou ainda num epitáfio de Sidónio Muralha que mereces na tua campa:
Largos versos irrompem do teu silêncio de granito //E tu vives inteiro em cada grito //Tu que foste maior que todas as poesias.
Foi para homens como tu que estes versos se cantaram. Que o não duvide ninguém!... Porque só quem viu uma população inteira a pedir, para si, o teu corpo, a caminhar, em silêncio, de braços agarrados numa muralha de dor, que também era esperança, entre lágrimas espontâneas, como se todos, até mesmo as crianças, fossem acompanhar um filho, poderá entender o que tu eras para todos nós... Só quem viu mulheres e meninos do povo levarem-te raminhos de flores silvestres, numa homenagem que nunca conheci igual, e os teus amigos, e os teus companheiros de trabalho, e uma população inteira, todos sofrendo essa separação, numa angústia que estava mais no nosso sangue do que nos rostos torturados por esses golpe, é que saberá compreender e testemunhar que chorámos um Homem. Um Homem de que nos cumpre honrar o exemplo de dignidade e a lição de coerência.
Daí o sentir frustradas as palavras que te dedico, porque elas são incapazes de exprimir o que tu mereces e o que te devo...
-- Devo-te muito do que há-de ser o futuro do meu filho; devemos-te todos, mesmo os que te quiseram mal, alguma coisa da felicidade que virá para os filhos de cada um... E por isso te chorámos, e por isso te lembraremos sempre, mais ainda nas horas de alegria do que nos momentos de amargura.»
Alves Redol
quarta-feira, 25 de junho de 2008
O Preste João e Pêro da Covilhã (III)
Começo por chamar a atenção para os factos. São, fundamentalmente, quatro.
Os dois primeiros dizem respeito a Pêro da Covilhã. Em primeiro lugar, este é enviado ao Oriente, em 1487, como se lê nas crónicas, com o objectivo de descobrir o Preste João e de conhecer as rotas das especiarias. Depois de ter viajado pela região, nos finais de 1490 ou princípios de 1491, o mesmo envia ao rei de Portugal um documento com as informações obtidas. Em segundo lugar, no Cairo, Pêro da Covilhã recebe instruções para, no Índico, se dirigir a Ormuz, e aí se informar das coisas da Índia, e que procurasse o Preste João.
Os outros dois dizem respeito à viagem de Vasco da Gama. Quando, em Moçambique, um mouro pergunta aos portugueses onde se dirigem, Vasco da Gama responde - e cito palavras de Barros - «que sua vinda àquele porto era passagem para a Índia, fazer alguns negócios a que el-Rei, seu senhor, o enviava, principalmente com el-Rei de Calecute». Finalmente, em diversos momentos da viagem, os portugueses demonstram possuir um grande desconhecimento das realidades sociais e económicas do comércio da região.
No conjunto dos quatro aspectos indicados, os dois primeiros tiveram certamente lugar (não existem fundamentos para duvidar da sua existência), e o terceiro parece revelar um conhecimento, pelo menos nas suas linhas gerais, das grandes redes de comércio de especiarias no Índico (pôr em causa esta afirmação significaria admitir que a ordem dada a Vasco da Gama de se dirigir a Calecute resulta da pura casualidade, o que é totalmente absurdo). Em face disto, não custa a admitir que tal conhecimento não tenha sido alheio às informações enviadas por Pêro da Covilhã.
"Vasco da Gama - O Homem, A Viagem, A Época", Luís Adão da Fonseca, Edição do Comissariado da Exposição Mundial de Lisboa de 1998 e da Comissão de Coordenação da Região do Alentejo, 1997, pp. 154 e 155
Mala e sapatos com que Ferreira de Castro realizou o seu périplo planetário
Fotografia, Ruela 2007
"[...] viajei para fazer reportagens distantes e um dia [...]
regressei à casa onde nasci."
Ferreira de Castro (1928)
O protesto de Alfredo Pimenta contra o filme Camões
Enviado para você por Rui Moio através do Google Reader:
É inacreditável, mas é assim mesmo.
Estava na Madre Deus, quando se estreou no cinema de S. Luís, o filme intitulado Camões. Não tiveram descanso, os badalos de todos os sinos, sinetas e campaínhas, a aclamar, como glória suprema do cinema português, esse filme.
Conheço em demasia os cordelinhos destas manifestações apoteóticas - e por isso não me convenci. E fiquei à espera de ocasião oportuna para ver e julgar.
Fui ontem ver o filme.
Não sou cinéfilo, nem percebo nada da gíria dos cinéfilos. Quer dizer: não sou técnico. Sou muito simplesmente o homem da rua que contempla o que se exibe no quadro branco, e julga, consoante a natureza do que viu, e à luz do seu critério.
Se me oferecem uma fita ciêntifica, como só o cinema alemão sabia convenientemente apresentar, aprecio-a como fita cientifica; se se trata de fita sentimental ou sadiamente sentimental, vejo-a desse ângulo; se se trata de fita policial ou de aventuras cowboyescas, observo-a desse plano; se me dão fita que seja a biografia de personagem célebre, exijo que não ma deformem, não ma falsifiquem, portanto, que não me intrujem.
Li outro dia que o Cinema não é História. É deturpação?
O Cinema é o instrumento mais poderoso de educação ou perversão. Muito mais do que o livro, o jornal ou o teatro. Atinge as camadas mais ínfimas da sociedade; apanha, na sua rede, as crianças.
O homem, o espectador, pode ser pervertido nos seus sentimentos ou na sua inteligência, quer dizer, nos seus costumes ou nos seus juízos, se lhe fornecem, respectivamente, espectáculos de devassidão ou espectáculos deformadores das realidades.
Se o Cinema é instrumento de Educação e Cultura, e se, por outro lado, não é História, devem ser implacavelmente proibidos os filmes históricos, ou que abordem assuntos históricos, ou que descrevam biografias de personagens históricos.
A não ser que os autores destes filmes se documentem escrupulosamente, e se cinjam fielmente às realidades indiscutíveis.
É preferível deixar na paz dos túmulos, na sombra espessa do esquecimento, as grandes figuras da História, a arrastá-las numa publicidade mentirosa e caluniosa, levando as multidões a juízos errados a seu respeito. E quando essas figuras são nossas, maior cuidado deve ser o nosso.
Ora o filme que se chama Camões é uma deplorável mistificação. Mais: é um ultraje imperdoável à verdade, que não exalta, não dignifica, não impõe o Poeta, e suja indelevelmente a Infanta, filha d`El-Rei D. Manuel, Grande Senhora, em tudo.
Historicamente, é uma mentira. Moralmente, uma abjecção. Sacodem, os autores, a água do seu capote, alegando que se encostaram ao parecer de Afonso Lopes Vieira. Era escusado declará-lo: aquela galinha que apareceu no quarto dos estudantes em Coimbra deve ser uma das que Lopes Vieira exibia nos seus salões da Costa do Castelo, para espantar os palermas...
Mas que autoridade tinha o poeta do Náufrago, em tal matéria? Absolutamente nenhuma. Ele podia depor sobre a beleza ou incorrecção, a elegância ou a grosseria de um verso. Nada mais. Porque não sabia absolutamente nada dos problemas camonianos, como de qualquer outro. Famas não lhe faltaram, em vida, e depois da morte. Mas de famas está o mundo cheio. Tomou à sua conta o Gil Vicente; mas quem quer conhecer o poeta dos Autos, não lê Lopes Vieira: lê Carolina Michaelis, lê Anselmo Braancamp, lê Brito Rebelo, lê Aubrey Bell, lê Menendez y Pelayo, lê Paulo Quintela. Serviu-se do Amadis - mas quem conhecer os problemas que o Amadis levanta, lê toda a gente, em Portugal e fora de Portugal, menos Lopes Vieira. Serviu-se da Diana de Montemor, mas não escreveu uma linha crítica sobre o Autor, ou sobre a obra. Finalmente, serviu-se de Camões, de braço dado com José Maria Rodrigues - mas não nos deixou um estudo, grande ou pequeno, do problema camoniano. De sorte que bater-lhe à porta para o consultar sobre o filme Camões só podia lembrar a pessoas completamente ignorantes do assunto.
Pois está aí vivo, são e escorreito, quem, com saber, critério e honestidade, podia informá-las, guiá-las e aconselhá-las: o prof. da Universidade de Coimbra, Costa Pimpão.
Eu compreendo que, em filme histórico, nem tudo seja rigorosamente exacto, e haja, algumas vezes, necessidade de se recorrer a inferências ou à ficção. Mas isso, em pormenores secundários; digamos: nas falhas, para se construir o edificio.
Mas as paredes mestras, os pontos essenciais de apoio, os alicerces, esses devem ser rigorosamente exactos.
No filme Camões que é fundamental? Os amores do Poeta e da Infanta. Quase se pode dizer que tudo gira à volta dessa mentira, com pormenores que ultrapassam a própria inverosimilhança.
Ontem, era, segundo o cartaz, a sétima semana que tal monstruosidade se exibia. Há quarenta e nove dias ou, melhor, pois que há espectáculos de tarde e à noite, há noventa e oito dias que milhares de pessoas aprendem a mais escandalosa deturpação da vida de Camões.
Crianças, moços e velhos; cultos e incultos; inteligentes e estúpidos, há noventa e oito dias que recebem aquela lição de mentira que é o filme Camões. E isto, com aplauso e sanção do Estado!
No filme, há coisas belas, e inofensivas: paisagens interiores - cenários e música; algumas caras das actrizes. Há pormenores bem achados, como esse do ferimento de Camões, em Ceuta, quando erguia a bandeira de Portugal.
A vida do Poeta em Coimbra passa, se fecharmos os olhos ao recitativo do Leonor vai para a fonte que é ridículo até mais não ser, o que é singular, porque o dizer do Não sei se me engana Helena, embora nada autorize a que se tivesse efectuado naquela ocasião, tem graça e beleza.
A vida do Poeta em Ceuta não desperta reparo de maior. E até é lindíssimo aquele bocadinho em que ele, na fortaleza, canta a xácara A dor que a minha alma sente.
A gente perdoa a fantasia do ferimento, por, como já disse, bem achada.
Mas tudo o que se passa em Lisboa merece pateada, e pateado geral. Porque não se trata de fantasias desculpáveis: trata-se de mentiras escandalosas que se acumulam de instante a instante.
Já não falo daquela pastuquíssima entrada de Camões em Lisboa, em que ele nos aparece, salvo o devido respeito, com cara de parvo. Mas que me dizem à ordem escrita do Rei expulsando Camões de Lisboa, e mandando-o a ares para o Ribatejo? Quem autorizou os autores a essa falsificação criminosa? O problema dos desterros é um dos grandes enigmas da vida de Camões. Não há o mais pequeno vestígio documental de que tivesse sido desterrado. Como é que se exibe a ordem régia escrita?
Que me dizem ao golpe verdadeiramente apáchica da Má-Fortuna, quando mete um suposto bilhete da Infanta D. Maria, que ela forjou, dentro de um livro que a mesma Senhora mandara entregar a Camões? Quem se atreveria a tal ignomínia que, descoberta, só a morte pagaria? E em que estado se encontravam as relações do Poeta com a Infanta, para que ele acreditasse em tão estapafúrdio convite? Mas se eram grandes as revelações entre os dois, não conhecia Luís de Camões a letra da Infanta? Ou era a Má-Fortuna tão sabida, que imitava a caligrafia da Grande Senhora?
E que me dizem à cena repugnante e revoltante da Varanda das Galés, em que Luís de Camões, em precursos do Dâmaso Salcede, se atira à Infanta D. Maria? Autêntico sistema do atracão que Dâmaso Salcede proclamaria, três séculos depois, ser o seu sistema!
E isto com a Infanta D. Maria!
Mau olhado teve aquela Côrte da famosa Senhora. Um arrasta Luísa Sigêa ao pelourinho das maiores vergonhas, dando-a como autora das páginas mais pornográficas; agora, vêm os actores do filme Camões, guiado por Afonso Lopes Vieira, transformar a impecável Princesa em objecto consentido da paixão atrevida dum poeta brigão e arruaceiro, frequentador do Mal-Cozinhado!
Vá lá! Os autores do filme não chegaram à infâmia de um tal francês que não hesitou em apresentar-nos a Infanta a entregar-se a Luís de Camões, nos jardins do seu Palácio! Os actores do filme no atracão...
É falso, tal como o descreve o filme, o incidente do dia de Corpus Christi. Os factos foram pouco mais ou menos assim: levantou-se desordem no Largo de S. Domingos. Nessa desordem figuravam amigos de Camões. Este interveio, e feriu um dos contendores, Gaspar Borges. Mas fosse como fosse, ninguém autorizou os autores do filme a darem ao público o espectáculo de Camões proceder à caça ao homem, com este a esgueirar-se, como quem pretende fugir a castigo - entre as gargalhadas alvares do público.
Para remate da monstruosidade cinematográfica, vem a cena da leitura dos Lusíadas, na Penha Longa, a D. Sebastião!
O Poeta, de pé, diante duma estante, lê o Poema. O Rei, com galgo deitado, ouve...
O leitor ponha na sua ideia esta coisa absolutamente inepta de um homem, precocemente envelhecido, como, dada a vida que vivera, devia ser Camões, aguentar, a pé firme, a declamação, durante horas, sem fim, dos dez cantos dos Lusíadas, com mil e oitocentas estâncias, ou oito mil e oitocentos versos!
A admitir-se a possibilidade de se manter sempre o mesmo ritmo, se Camões gastasse meio minuto a ler cada oitava, consumiria a recitar todo o Poema, nove horas e um quarto! Só se fosse de ferro. E não haveria Rei, por mais Rei que fosse, e por mais galgos que trouxesse na sua companhia, que aturasse nove horas de declamação, sem, pelo menos, quatro ou cinco sonos regalados...
A historieta inventou-a Garret - e esse mesmo, para ter coragem de a levar até o fim, não deixa de intercalar, no recitativo, a entrada em cena de «moços de pellote», a trazer aos circunstantes, «Em ricas salvas d`ouro alto-lavradas», a merenda reconfortante. Chama-lhe ele «refeição leve»; não digo que não; mas por mais leve que fosse, merenda de Rei no século XVI, não devia ser coisa somenos, e indigna de se exibir no filme...
Que me dizem os srs. àquelas patacoadas que os autores põem na boca do Rei D. Sebastião - tipicamente acaciais? Pobre Rei! Não lhe bastou ter morrido no sacrifício cruento de Alcácer. Era-lhe preciso ainda ser trazido para o pano branco do Cinema, a proferir palavras idiotas que o Conselheiro desdenharia!
Portanto, as pinceladas fundamentais da tela cinematográfica são todas mentira. Os desterros - mentira; a ordem do Rei a desterrar o Poeta - mentira; o ferimento em Ceuta, no alto dos muros da fortaleza - mentira; o incidente do dia do Corpo de Deus, com o Poeta a correr atrás de Gaspar Borges - mentira; as relações com a Infanta D. Maria, desde o bilhete apócrifo ao atracão, na Varanda das Galés - mentira; a leitura dos Lusíadas, em Sintra - mentira; até a morte é morte.
Alega-se, em defesa desta maneira de educar as camadas da população, a necessidade dos efeitos, e invoca-se a impossibilidade de uma obediência estricta à verdade histórica. De acordo. Mas ninguém é obrigado a tratar assuntos que não se prestam às realidades. Ninguém é obrigado a explorar figuras históricas, da grandeza de Camões ou da Infanta D. Maria.
Se daqui a dois séculos, alguém se lembrasse de compor uma fita chamada Os autores do filme Camões, e nela aparecessem estes a furtar carteiras no Rossio ou a abraçar passageiros nos eléctricos, ou a andar às cabriolas de palhaços pelas ruas, quem desculparia ou justificaria ou aplaudiria tal atrevimento? Se, amanhã, alguém se lembrar de compor um filme sobre o Marquês de Pombal, e exibir este vestido de jesuita a roubar conventos ou a comandar salteadores, acham bem? Se se trouxer D. João II ou D. João I, D. Leonor ou D. Filipa para o cinema, apresentando-os como vadios ou regateiras, escrocs elegantes ou vamps de alfurja - acham bem? Se alguém se lembrasse de exibir no cinema a Jeanne d`Arc de Voltaire, achavam bem? Se alguém ousasse exibir no cinema a figura de Jesus tal como sai dos trabalhos pseudo-científico de Binet-Sanglé, achavam bem?
Sabe-se muito pouco da vida de Camões; mas o pouco que se sabe pode-se aproveitar eficazmente, sem haver necessidade de recorrer ao escândalo mentiroso, e à mentira escandalosa. Porque se não aproveitou, para efeitos dramáticos ou cénicos, a Dinamene, realidade averiguada, e se foi sujar a Infanta D. Maria, caluniando-a?
Além de tudo o mais, o filme Camões é uma detestável lição fornecida ao público. Escrevendo este artigo, quero deixar bem patente o meu protesto, para que não se diga, um dia, que toda a gente se prestou a ser cúmplice dessa lição perniciosa.
In «A Nação», nº 41, págs. 1/10, 30.11.1946.
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Caronte
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Nem Esquerdas nem Direitas
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"Os partidos de Esquerda vêem o homem, mas desenraizado. A constante das esquerdas é a preocupação pela sorte do individuo contra toda a arquitectura politica, como se fossem termos contrapostos. O esquerdismo é, por isso, dissolvente e corrosivo; é irónico e, estando dotado de uma brilhante colecção de capacidades, está, apesar disso, muito virado para a destruição e pouco para a construção. O direitismo, os partidos da direita, foca o panorama pelo outro lado.
(…)O direitismo quer conservar a Pátria, quer conservar a unidade, quer conservar a autoridade; mas desinteressa-se da angustia do homem, do individuo, do semelhante que não tem de comer.
Esta é a verdade rigorosa e muitos encobrem a sua insuficiência com palavreado: uns invocam a Pátria sem a sentir nem a servir; os outros atenuam o seu desdém, a sua indiferença pelo problema profundo de cada homem, com fórmulas que na verdade não são mais do que envólucro verbal sem significado. (…)"
José António Primo de Rivera, extracto do Discurso pronunciado no Circulo Mercantil de Madrid em 4 de Abril de 1935.
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terça-feira, 24 de junho de 2008
As palavras de Alfredo Pimenta
Enviado para você por Rui Moio através do Google Reader:
Estava com algumas dificuldades em encontra-la na sua forma verdadeira e pura.
Assim sendo, e como estou em onda de citações, não deixo de a postar, pois mesmo sem motivo algum de especial, a sua beleza deixa-me sempre estarrecido.
Admirável coisa esta de defender causas vencidas, homens vencidos, sobre que as vagas alterosas da Vitória passam altaneiras e invencíveis! Com a sua defesa, não se colhem bens nem louros; colhem-se antes desgostos e lágrimas. Mas fica-nos a consciência tão límpida como água que brota de rocha virgem…
Alfredo Pimenta
in 'Três Verdades Vencidas, Deus-Pátria-Rei', p. 68, Lisboa - 1949
Roubada a um antigo post do amigo Mário, autor da magnifica Voz Portalegrense.
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O Preste João e Pêro da Covilhã (II)
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Para o caso presente, não interessa tanto conhecer os pormenores da aventura de Pêro da Covilhã, quanto o saber se teriam chegado ao conhecimento do rei de Portugal as informações por este escudeiro obtidas, no seu périplo pelo Oriente. Sabe-se que, quando regressava a Portugal, Pêro da Covilhã terá encontrado no Cairo um mensageiro de D. João II que lhe transmitiu a ordem real de se dirigir para sul, em demanda dos reinos do Preste João. O que ele fez, não sem antes ter enviado para Lisboa um extenso relatório do que ele tinha visto e sabido. Segundo o cronista Castanheda, Pêro da Covilhã «escreveu a El-Rei tudo o que tinha sabido do Preste, e onde era seu senhorio, e assim o que vira da Índia e de Ormuz, e a carregação que se fazia em Calecute de especiaria, droga e pedraria, e que Calecute e Cananor estavam na costa, e podia-se navegar para lá pela sua costa e mar da Guiné, indo demandar Sofala, donde podiam ir tomar a costa de Calecute», embora declare não ter a certeza de que D. João II recebeu tais informações.
A questão fundamental é a seguinte: Teria tal texto chegado às mãos de D. João II? E, em caso afirmativo, teria o seu conteúdo sido transmitido a Vasco da Gama?
"Vasco da Gama - O Homem, A Viagem, A Época", Luís Adão da Fonseca, Edição do Comissariado da Exposição Mundial de Lisboa de 1998 e da Comissão de Coordenação da Região do Alentejo, 1997, pp. 151 e 154
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segunda-feira, 23 de junho de 2008
Que futuro para a Politécnica?
Quando, há duzentos e quarenta anos, o Marquês de Pombal criou o Museu Real da Ajuda, não lhe passou pela ideia questionar a sustentabilidade financeira deste pequeno museu, um embrião à semelhança de outros que o liberalismo, na Europa do século XVIII, encorajou desenvolveu e glorificou como autênticas catedrais do iluminismo - os Museus de História Natural. Concebidos ao serviço da cidadania, foram subsidiados pelos Estados e, só mais tarde, com a sociedade de consumo, muitos deles recorreram à cobrança das entradas, uma prática entendida necessária ao seu cabal funcionamento. Quando, em 1837, foi fundada a Escola Politécnica, em substituição do caduco Colégio dos Nobres, foram ali instalados "Gabinetes de História Natural", visando os três "Reinos da Natureza", sem que a Fazenda se preocupasse com a respectiva sustentabilidade financeira. Em 1858, o espólio do Museu Real da Ajuda foi incorporado nos Gabinetes de História Natural da Escola Politécnica que, anos mais tarde, viriam a unir-se no que é hoje o Museu Nacional de História Natural. Também desta vez não se pôs em causa a sua sustentabilidade financeira. Pelo contrário, foi-lhe atribuído um orçamento compatível com a importância que lhe era outorgada pelos decisores políticos de então, os mesmos iluminados que criaram a Academia das Ciências. Um tal desafogo permitiu-lhe crescer consideravelmente, através de expedições científicas no país e além-mar - as então chamadas "viagens filosóficas" - em busca de testemunhos da Natureza, permitiu-lhe estudá-los e arquivá-los cientificamente e, ainda, colocar esse conhecimento, de forma acessível, ao alcance dos cidadãos.
Com a República, em 1910, a Escola Politécnica, incluindo o Museu Nacional de História Natural e o Instituto Geofísico Infante Dom Luís, passaram a integrar a então criada Faculdade de Ciências, sob a tutela da Universidade de Lisboa. Também, desta vez, os republicanos não levantaram problemas à sustentabilidade financeira deste museu. Deram-lhe, sim, importância e um orçamento suficientes para suportar o ensino, a investigação científica e todas as actividades inerentes às licenciaturas nas áreas da Biologia e da Geologia, um privilégio que terminou na sequência do incêndio de 1978. Sempre os museus aqui instalados e o Jardim Botânico, estiveram abertos ao público com entrada gratuita. Foi assim ao longo do século que passou. Os tempos que se seguiram aquela trágica noite que, há 30 anos, iluminou o céu da 7ª Colina, foram anos difíceis, com orçamentos de miséria, em termos de financiamento estatal, foram anos de promessas enganosas por parte dos sucessivos governos, mas foram anos de intensa e frutuosa produção científica suportada por projectos de investigação, financiados do exterior, e, ainda, os anos das exposições mais visitadas, faladas e jamais igualadas no nosso Pais, com centenas de milhar de visitantes.
Foi preciso chegarmos ao século XXI, no seio de uma sociedade economicista, em que a especulação bolsista domina a economia e as nossas vidas, para que se recorresse ao pagamento das entradas em alguns dos seus espaços. Foi preciso chegarmos aqui para nos virem falar da sustentabilidade financeira destas "Torres do Tombo" da biodiversidade e da geodiversidade; para nos virem falar da inevitabilidade de alienar e eventualmente, aviltar património a este pólo, mais que centenário, de cultura científica. Mas uma coisa é criar receitas próprias, pela imaginação e pelo trabalho, outra coisa é pôr-lhe em causa o presente e, deste modo, comprometer-lhe o futuro ao serviço do interesse público.
Os que aqui trabalham não são assalariados de uma empresa que, naturalmente, visa o lucro e que, em situação de dificuldades de tesouraria, opta pela alienação de parte dos seus haveres. São, antes do mais, zeladores e guardiões intransigentes do património que receberam dos seus antecessores, um bem nacional que têm vindo a aumentar, a estudar e a divulgar. Do mesmo modo, estes museus e todo o espaço que, anos futuros de "vacas gordas", permitirão desenvolver e, assim, recuperar todo o atraso de décadas de contenção orçamental, não podem ser tratados como peças ou armazéns de drogaria alienáveis para saneamento financeiro da empresa.
É forçoso e urgente que a Universidade, longe de procurar alienar património, como é, já hoje, um dado adquirido e público, venha, finalmente, fazer coro com os que, aqui, entendem ser seu dever profissional e cívico não abrir mão de um palmo, que seja, deste espaço, no sentido de obter, do Estado, a solução dos seus graves problemas financeiros.
domingo, 22 de junho de 2008
"10 DE JUNHO: dia de PORTUGAL, de CAMÕES e das COMUNIDADES PORTUGUESAS"
Hoje:
«Somos um país pequeno e pobre e que não tem
senão o mar
muito passado e muita História e cada vez menos
memória
país que já não sabe quem é quem
país de tantos tão pequenos
país a passar
para o outro lado de si mesmo e para a margem
onde já não quer chegar.
País de muito mar
e pouca viagem."
(Manuel Alegre)
Ontem:
«Ó tu, Sertório, ó nobre Cariolo,
Catilina, é vós outros dos antigos
Que contra vossas pátrias com profano
Coração vos fizestes inimigos:
Se lá no reino escuro de Sumano
Receberdes gravíssimos castigos,
Dizei-lhe que também dos Portugueses
Alguns traidores houve algumas vezes».
(Luiz de Camões in Lusíadas, IV, 58)
Mais de oitocentos anos de história de Portugal e duzentos milhões de seres humanos a falar em português é o mais "vivo" legado que, ainda, move o orgulho de ser português.
O resto... foi "arrastado" no naufrágio universal das ilusões. Na desordem das paixões e na sedução da retórica forjaram-se poderes ocultos e pantominas nas coisas sérias. Hoje, as reservas de ouro e a soberania encontram-se beliscadas pelas vivências de um quotidiano - interno e externo - fortemente condicionado pelos ditames mais bizarros que, descaradamente, mascaram as verdades mais genuínas.
Já não vale a pena falar de "traidores" e /ou responsáveis intervenientes directos que "fogem" sempre a tempo.
É triste que tudo se modifique à nossa volta e que a Pátria amada se mantenha "prisioneira" das indecisões, das injustiças, da incompetência , dos interesses pessoais...
Neste dia, importa referir o seguinte: não é difícil o progresso... pelo contrário , o que é difícil é conservar-se idêntico, continuar a ser o "rochedo" batido por todas as "tempestades", mas que fica de pé e que nenhum furação consegue abalar.
Há agressividades reveladoras de orgulhos feridos, insinuações e afirmações para esquecer. Há vocacionados a mais para donos e senhores da Pátria e do povo.
A linguagem das promessas em que tudo se dá sem nada se possuir, em que se apaga o que vem detrás sem se apreciar com objectividade, é, de facto, uma pobreza e uma falta de seriedade que pressagia tempos menos auspiciosos.
Entretanto, o povo, resignado, desta "velha" Pátria, vai, paulatinamente, perguntando - enquanto faz contas à vida -, onde encontrar uma razão de ser? Onde encontrar uma verdadeira regra, uma lei justa? Onde encontrar na desordem da "aldeia global" um "templo" ainda de pé? Nos momentos de alteração da ordem publica, onde esta a autoridade do Estado?
A história de uma Nação não pode ser movida a petróleo, retórica, fado, religião, discursos pejados de "indirectas" e, muito menos por um relvado com uma bola milionária lá dentro...
Uma Nação é constituida por muitas "almas" e estas são movidas pela dignidade da pessoa humana, justiça e, sobretudo, pela certeza na autoridade do Estado.
Já passaram 829 anos (23 de Março de 1179) desde que o Papa Alexandre III emitiu a bula «manifestis probatum" - a magna carta de Portugal- que declarava o Condado Portucalense independente do Reino de Leão e legitimava D. Afonso Henriques o seu Rei: « Alexandre, Bispo, Servo dos Servos de Deus, ao Caríssimo filho em Cristo, Afonso, ilustre Rei dos portugueses, e a seus herdeiros, in perpetum . Está claramente demonstrado que, com bom filho e príncipe católico, prestaste inumeráveis serviços a tua mãe, a Santa Igreja, exterminando intrepidamente em porfiados trabalhos e proezas militares os inimigos do nome cristão e propagando diligentemente a fé cristã, assim deixaste aos vindouros nome digno de memória e exemplo merecedor de imitação. Deve a Sé Apostólica amar com sincero afecto e procurar atender eficazmente, em suas justas súplicas, os que a Providência divina escolheu para governar e salvação do povo. Por isso, Nós, atendemos às qualidades de prudência, justiça, e idoneidade de governo que ilustram a tua pessoa, tomamo-la sob a protecção de São Pedro e nossa, e concedemos e confirmamos por autoridade apostólica ao teu excelso domínio o reino de Portugal com inteiras honras de reino e a dignidade que aos reis pertence, bem como todos os lugares que com o auxílio da graça celeste conquistaste das mãos dos Sarracenos e nos quais não podem reivindicar direitos aos vizinhos príncipes cristão. E para que mais te fervores em devoção e serviço ao príncipe dos apóstolos S. Pedro e à Santa Igreja de Roma, decidimos fazer a mesma concessão a teus herdeiros e, com a ajuda de Deus, prometemos defender-te, quando caiba em nosso apostólico magistério.»
A verdade é que a realidade actual de Portugal já não possui os requisitos exigíveis na "bula manifestis probatum" para que, assim, nós - os herdeiros - possamos ter a protecção do "apostólico magistério" da Igreja Católica ...
Paulo
Quem tem nas mãos o monopólio do poder financeiro mundial?
Rui Moio
Em 1918, Ford comprou um pouco conhecido semanário: «The Dearborn Independent». No princípio dos anos 20 este semanário publicou um conjunto de quatro volumes de artigos considerados anti-judaicos, cumulativamente intitulados «O Judeu Internacional» - «The International Jew».
Segue-se um excerto do primeiro artigo [The Dearborn Independent, 22 Maio de 1920]:
Existe no mundo de hoje, ao que tudo indica, uma força financeira centralizada que está a levar a cabo um jogo gigantesco e secretamente organizado, tendo o mundo como tabuleiro e o controlo universal como aposta. As populações dos países civilizados perderam toda a confiança na explicação de que «as condições económicas» são responsáveis por todas as mudanças que ocorrem. Sob a camuflagem da «lei económica» muitíssimos fenómenos foram justificados, os quais não se deveram a nenhuma lei económica a não ser a do desejo egoísta humano operado por meia dúzia de homens que têm o objectivo e o poder de trabalhar a uma vasta escala com nações como vassalas.
Embora qualquer coisa possa ser nacional, hoje ninguém acredita que a finança seja nacional. Ninguém acredita hoje que a finança internacional esteja em competição. Existem algumas instituições bancárias independentes, mas poucas verdadeiramente autónomas. Os grandes senhores, os poucos cujos espíritos abarcam claramente o plano em toda a sua extensão, controlam numerosos bancos e companhias fiduciárias, e um é usado para isto e outro usado para aquilo, mas não existe antagonismo entre eles, não sancionam os métodos uns dos outros, não há competição nos interesses do mundo dos negócios. Existe tanta concordância nas políticas das principais instituições bancárias de cada país como existe nas várias secções do Serviço Postal dos Estados Unidos – e pela mesma razão, são operadas pelas mesmas fontes e com os mesmos objectivos.
Imediatamente antes da Primeira Grande Guerra, a Alemanha comprou maciçamente algodão na América e grandes quantidades desse produto foram exportadas. Quando a Guerra chegou, a propriedade das enormes quantidades de algodão mudou, de um dia para o outro, de nomes Judeus em Hamburgo para nomes Judeus em Londres. Em pouco tempo o algodão começou-se a vender em Inglaterra a um preço inferior ao que era vendido nos Estados Unidos, o que teve como consequência baixar o preço do algodão na América. Quando os preços desceram o suficiente, o algodão foi todo adquirido por compradores já preparados de antemão, e então os preços subiram novamente para valores elevados. Entretanto, os mesmos poderes que tinham engendrado o, aparentemente sem motivo, fortalecimento e enfraquecimento do mercado do algodão, utilizaram a Alemanha como fonte de mão-de-obra barata. Alguns grupos controlam o algodão, emprestam-no à Alemanha para ser manufacturado, deixam lá uma pequena quantidade como pagamento pelo trabalho utilizado, e depois lucram na totalidade do mundo com a mentira de que o "algodão está escasso". E quando, refazendo o percurso de todos estes métodos anti-sociais e extraordinariamente injustos até à sua fonte, e se chega à conclusão que todas as partes responsáveis têm todas uma característica comum, será de espantar que o aviso vindo do outro lado do mar – "Esperem até a América despertar para a realidade Judia" – tem um novo significado?
Certamente, as razões económicas já não conseguem explicar as condições em que o mundo se encontra hoje em dia. Nem sequer a explicação usual da "crueldade do capital". O capital tem-se esforçado como nunca para ir ao encontro das exigências do trabalho, e o trabalho chegou ao extremo de obrigar o capital a novas concessões – mas qual é a vantagem para cada um deles? O trabalho tem até agora acreditado que o capital era o céu por cima dele, e tem feito o céu recuar, mas vejam, existe um céu ainda mais alto que nem o capital nem o trabalho se deram conta nas suas lutas um com o outro. Esse céu ainda não recuou até agora.
Aquilo a que chamamos capital aqui na América é normalmente dinheiro usado na produção, e referimo-nos de forma errada ao fabricante, ao gerente do trabalho, ao fornecedor de ferramentas e empregos – referimo-nos a ele como o "capitalista". Mas não. Ele não é o capitalista no verdadeiro sentido do termo. Porque, ele próprio tem de ir ao capitalista pedir o dinheiro que precisa para financiar os seus projectos. Existe um poder acima dele – um poder que o trata muito mais duramente e o controla de uma maneira mais implacável que ele alguma vez se atreveria a fazer com o trabalho. Essa, na verdade, é uma das tragédias dos nossos tempos, que o "trabalho" e o "capital" lutem um com o outro, quando as condições contra as quais cada um deles protesta, e com as quais cada um deles sofre, não está ao seu alcance o poder para o remediar, a não ser que arranjassem uma forma de arrancar à força o controlo mundial de um grupo de financeiros internacionais que forjam e controlam estas condições.
Existe um super-capitalismo que é totalmente sustentado pela ficção de que o ouro é riqueza. Existe um super-governo que não é aliado de governo nenhum, que é independente de todos eles, e que, no entanto, tem as suas mãos em todos eles. Existe uma raça, uma parte da humanidade, que ainda nunca foi recebida como uma parte bem-vinda, e que teve sucesso em alcandorar-se a um lugar de poder que a mais orgulhosa raça de gentios nunca reivindicou – nem sequer em Roma nos tempos do seu mais poder orgulhoso. Há uma convicção crescente nos homens de todo o mundo de que a questão laboral, a questão dos salários e a questão da terra não pode ser solucionada antes deste assunto de um governo super-capitalista internacional estar resolvido.
"Os despojos pertencem ao vencedor" diz um velho ditado. E, de certo modo, é verdade que se todo este poder de controlo foi adquirido e mantido por uns poucos homens de raça judia, então ou eles são super-homens contra quem é inútil resistir, ou são homens comuns a quem o resto do mundo tem permitido obter um grau de poder indevido e perigoso. A não ser que os Judeus sejam super-homens, os Gentios devem culpar-se a si mesmos pelo que tem sucedido, e devem procurar uma rectificação com uma análise da situação e um exame justo das experiências de outros países.
O que é que poderá ter levado a um homem como Henry Ford a acreditar na existência de uma conspiração mundial Judaica? Ford culpou os financeiros Judeus por terem fomentado a Primeira Guerra Mundial. Contratou ex-investigadores de serviços de informações militares para juntarem provas que provassem que os Judeus controlavam a finança mundial, que organizações Judaicas manipulavam a diplomacia para causar guerras que matavam cristãos e que enriqueciam os Judeus, etc.
Curiosamente, Eça de Queirós, quarenta anos antes de Henry Ford, sugere também uma suspeita de conspiração Judaica ao mais alto nível:
Eça de Queirós
Cartas de Inglaterra 1877-1882
O motivo do furor anti-semítico é simplesmente a crescente prosperidade da colónia judaica, colónia relativamente pequena, apenas composta de quatrocentos mil judeus; mas que pela sua actividade, a sua pertinácia, a sua disciplina, está fazendo uma concorrência triunfante à burguesia alemã.
A alta finança e o pequeno comércio estão-lhe igualmente nas mãos: é o judeu que empresta aos estados e aos príncipes, é a ele que o pequeno proprietário hipoteca as terras. Nas profissões liberais absorve tudo: é ele o advogado com mais causas e o médico com mais clientela: se na mesma rua há dois tendeiros, um alemão e outro judeu, o filho da Germânia ao fim do ano está falido, o filho de Israel tem carruagem! Isto tornou-se mais frisante depois da guerra: e o bom alemão não pode tolerar este espectáculo do judeu engordando, enriquecendo, reluzindo, enquanto ele, carregado de louros, tem de emigrar para a América à busca de pão.
Mas o pior ainda na Alemanha é o hábil plano com que fortificam a sua prosperidade e garantem o luxo, tão hábil que tem um sabor de conspiração: na Alemanha, o judeu, lentamente, surdamente, tem-se apoderado das duas grandes forças sociais – a Bolsa e imprensa. Quase todas as grandes casas bancárias da Alemanha, quase todos os grandes jornais, estão na posse do semita. Assim, torna-se inatacável. De modo que não só expulsa o alemão das profissões liberais, o humilha com a sua opulência rutilante e o traz dependente pelo capital; mas, injúria suprema, pela voz dos seus jornais, ordena-lhe o que há-de fazer, o que há-de pensar, como se há-de governar e com que se há-de bater!
Tudo isto ainda seria suportável se o judeu se fundisse com a raça indígena. Mas não. O mundo judeu conserva-se isolado, compacto, inacessível e impenetrável. As muralhas formidáveis do Templo de Salomão, que foram arrasadas, continuam a pôr em torno dele um obstáculo de cidadelas. Dentro de Berlim há uma verdadeira Jerusalém inexpugnável: aí se refugiam com o seu Deus, o seu livro, os seus costumes, o seu Sabbath, a sua língua, o seu orgulho, a sua secura, gozando o ouro e desprezando o cristão. Invadem a sociedade alemã, querem lá brilhar e dominar, mas não permitem que o alemão meta sequer o bico do sapato dentro da sociedade judaica.
Só casam entre si; entre si, ajudam-se regiamente, dando-se uns aos outros milhões – mas não favoreceriam com um troco um alemão esfomeado; e põem um orgulho, um coquetismo insolente em se diferençar do resto da nação em tudo, desde a maneira de pensar até à maneira de vestir. Naturalmente, um exclusivismo tão acentuado é interpretado como hostilidade – e pago com ódio.»
Comentário:
Tudo isto nos leva a pensar duas vezes nas palavras do senador e candidato a presidente norte-americano Barry Morris Goldwater (1909 – 1998) - (Barry Goldwater, With No Apologies, page 231):
"Uma organização em mãos privadas, a Reserva Federal (banco central norte-americano) não tem nada a ver com os Estados Unidos."
"A maior parte dos americanos não compreende de todo a actividade dos agiotas internacionais. Os banqueiros preferem assim. Nós reconhecemos de uma forma bastante vaga que os Rothschildse e os Warburgs da Europa e as casas de J. P. Morgan, Kuhn, Loeb e Companhia, Schiff, Lehman e Rockefeller possuem e controlam uma imensa riqueza. A forma como adquiriram este enorme poder financeiro e o empregam é um mistério para a maior parte de nós. Os banqueiros internacionais ganham dinheiro concedendo crédito aos governos. Quanto maior a dívida do Estado político, maiores são os juros recebidos pelos credores. Os bancos nacionais da Europa são na realidade possuídos e controlados por interesses privados."
sábado, 21 de junho de 2008
Identidade e individualidade nacional
Identidade e Individualidade Nacional Portuguesa
sexta-feira, 20 de junho de 2008
Declaração (Escrita de Stefan Sweig deixada na hora da sua morte em Petópolis)
Antes de deixar a vida por vontade própria, com a mente
lúcida, imponho-me a última obrigação: dar um carinhoso
agradecimento a este maravilhoso país, o Brasil, que propi -
ciou, a mim e à minha obra, tão gentil e hospitaleira guarida.
Em cada dia aprendi a amar este país, mais e mais. Em
parte alguma poderia reconstruir a minha vida agora que o
mundo da minha língua está perdido e o meu lar espiritual,
a Europa, autodestruído.Depois dos 60 anos são necessárias
forças incomuns para começar tudo de novo. Aquelas que
possuo foram exauridas nestes longos anos de desampara -
das peregrinações. Assim, em boa hora e conduta erecta,
achei melhor concluir uma vida na qual o labor intelectual foi a mais
pura alegria e a liberdade pessoal o mais precioso bem sobre a terra.
Saúdo a todos os meus amigos. Que lhes seja dado ver a aurora desta
longa noite. Eu, demasiadamente impaciente, vou-me antes.”
Fonte: A Tragédia de Stefan Sweig de Adrian Gramary - PDF