segunda-feira, 30 de junho de 2008

Como na banheira de Arquimedes

via Sopas de Pedra de A. M. Galopim de Carvalho em 30/06/08
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O SOERGUIMENTO E AFUNDAMENTO de porções maiores ou menores de áreas continentais resultam de movimentos verticais da crosta terrestre, de há muito conhecidos. Sabemos que a Escandinávia se está a elevar à razão de 10mm por ano. Coberta por uma camada de gelo, com dois a três mil metros de espessura, durante a última glaciação, esta parte da Europa afundou-se. No período que se seguiu, marcado pelo degelo e pelo recuo da grande calote polar gelada, este bloco, aligeirado dessa sobrecarga, tem vindo, continuadamente, a soerguer-se. Estes movimentos são comparáveis aos de um barco na água, no qual se coloca ou do qual se retira uma carga. Os continentes, por assim dizer, flutuam sobre uma camada, mais densa, estando sujeitos a uma procura de equilíbrio semelhante ao do barco, mas muitíssimo mais lenta, como acontece com o bloco escandinavo. Trata-se, pois, do mesmo fenómeno físico a que Arquimedes terá sido sensível durante o banho. A mesma impulsão, de baixo para cima, sofrida por um corpo mergulhado num líquido, formulada na conhecida lei, que tem o seu nome e que todos aprendemos na escola, está na base destes quase imperceptíveis movimentos verticais dos continentes. Uma tal lentidão decorre do facto da camada subjacente não ser um verdadeiro líquido, antes, sim, um corpo de altíssima viscosidade, comportando-se como um sólido, para solicitações bruscas, e como um líquido muito pastoso, para solicitações muito lentas e prolongadas.
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A erosão de uma grande montanha dá lugar a uma superfície, sob a qual permanecem as suas raízes. Uma vez anulado o peso correspondente a essa montanha, esta superfície começa a elevar-se, e toda a área aplanada ganha altitude, adquirindo as características de um planalto. Trata-se de uma situação comum a todos os continentes e que temos aqui na Península Ibérica. A maior parte do território ocupado por Portugal e pela Espanha é o que resta do arrasamento de uma importante cadeia montanhosa formada no sul da Europa há mais de 300 milhões de anos. Este importante enrugamento da crosta, tão grandioso como os Alpes, ou talvez mais, foi quase totalmente erodido ao longo de tão dilatado espaço de tempo que se seguiu, transformando-se na altiplanura que caracteriza a Meseta Ibérica. Esta superfície elevada está basculada, descendo de nordeste para sudoeste. Dos planaltos de Castela-a-Velha e do Nordeste Transmontano, alguns a mais de 1000m de altitude, desce-se gradualmente até à planície do Baixo Alentejo, à cota média de 200m. Esta diferença de altitudes reflecte-se no carácter mais vigoroso do relevo do norte do país. Aí, os vales são mais profundos e quem viaja por estrada, percorrendo curvas e contracurvas, a subir ou a descer, interioriza uma sensação de relevo montanhoso, que contrasta com a que experimenta nas confortáveis rectas do Sul.

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