segunda-feira, 30 de junho de 2008

Que futuro para a Politécnica?

via sorumbático de noreply@blogger.com (A. M. Galopim de Carvalho) em 30/06/08
Por A.M.Galopim de Carvalho
ESTRANHAMENTE, SÓ AGORA, em pleno século XXl, 170 anos depois da sua criação, se põe em causa a sustentabilidade financeira deste magnífico conjunto arquitectónico, histórico, científico e cultural, que nos ficou da prestigiada Escola Politécnica, hoje um valioso e utilíssimo conjunto museológico, de que fazem parte o Museu de Ciência, o Museu Nacional de História Natural, incluindo o Jardim Botânico, e o venerando Instituto Geofísico Infante Dom Luís.
Quando, há duzentos e quarenta anos, o Marquês de Pombal criou o Museu Real da Ajuda, não lhe passou pela ideia questionar a sustentabilidade financeira deste pequeno museu, um embrião à semelhança de outros que o liberalismo, na Europa do século XVIII, encorajou desenvolveu e glorificou como autênticas catedrais do iluminismo - os Museus de História Natural. Concebidos ao serviço da cidadania, foram subsidiados pelos Estados e, só mais tarde, com a sociedade de consumo, muitos deles recorreram à cobrança das entradas, uma prática entendida necessária ao seu cabal funcionamento. Quando, em 1837, foi fundada a Escola Politécnica, em substituição do caduco Colégio dos Nobres, foram ali instalados "Gabinetes de História Natural", visando os três "Reinos da Natureza", sem que a Fazenda se preocupasse com a respectiva sustentabilidade financeira. Em 1858, o espólio do Museu Real da Ajuda foi incorporado nos Gabinetes de História Natural da Escola Politécnica que, anos mais tarde, viriam a unir-se no que é hoje o Museu Nacional de História Natural. Também desta vez não se pôs em causa a sua sustentabilidade financeira. Pelo contrário, foi-lhe atribuído um orçamento compatível com a importância que lhe era outorgada pelos decisores políticos de então, os mesmos iluminados que criaram a Academia das Ciências. Um tal desafogo permitiu-lhe crescer consideravelmente, através de expedições científicas no país e além-mar - as então chamadas "viagens filosóficas" - em busca de testemunhos da Natureza, permitiu-lhe estudá-los e arquivá-los cientificamente e, ainda, colocar esse conhecimento, de forma acessível, ao alcance dos cidadãos.
Texto integral [aqui]
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Publicado no «Público» de 23.06.2008, com o título "Os museus da Politécnica são descartáveis?". As imagens são da capa do livro «O edifício da F. Ciências», de José Lopes Ribeiro.

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