domingo, 2 de novembro de 2008

O Legitimismo: Faustino da Madre de Deus

via Nacional-Cristianismo by NC on 11/1/08
O Legitimismo é uma corrente de pensamento político favorável à recuperação da situação legítima do absolutismo e à contra-revolução defendendo que a legitimidade do poder está no regime monárquico. Teve o seu auge durante as fatais investidas dos inimigos da ordem entre 1820 e 1934. O Absolutismo, em Portugal, vigorava desde o reinado de D. João II alcançando a máxima virilidade no século XVIII com D. José I. Após a invasão estrangeira, a partir de 1807, que desgraçou o país, e a Revolução Liberal de 1820 que jubilava com ela, fiéis defensores de Portugal se insurgiram contra o escândalo da traição. Nessa luta pela antiga ordem se bateram nobremente o Marquês de Penalva, José agostinho de Macedo, José Acúrcio das neves, Frei Fortunato de são Boaventura, Ribeiro Saraiva, Gouveia Pinto, Gama e Castro e o autor em abordagem, Faustino da Madre de Deus. A Monarquia, a Nobreza, o Tradicionalismo e Deus eram, no entender destes generais do pensamento, os pilares sagrados que permitiam a elevação para uma sociedade equilibrada e ordenada segundo princípios divinos.

Face à perversidade dos ímpios e o seu ódio aos realistas, estes não abandonaram de ânimo leve a sua luta pela defesa da tradição Lusitana: "Os realistas com tanta e tão louvável assiduidade têm pugnado, e pugnarão pela conservação da ordem", dizia Madre de Deus. E quem pensar que a defesa da velha ordem significava atentados à liberdade de expressão que se desengane: "homem algum tem direito, ou poder de impôr silêncio à razão de outro homem", diz-nos ainda Madre de Deus. Ao que parece o carácter dos lacaios da subversão não gozava de grande reputação, o que leva o autor a proferir que "entre os revolucionários da França, da Hespanha, de Portugal, e da Itália não aparece um homem de morigeração: os menos depravados erão avarentos, ou máos pagadores: tanto he certo, que as revoluções subversivas assentão na depravação de costumes; e esta todos sabem, que nasce do desprezo da boa educação". A vantagem dos liberais consiste, ontem como hoje, numa fortíssima demagogia que Madre de Deus tão bem identificou simplesmente de "dadivas e promessas (armas a que não sabe resistir a ignorância)", o ditado é antigo: com papas e bolos se enganam os tolos.

"Os Luzitanos em 1144 estavão constituidos em Corpo de Nação como consta de muitos documentos: e que daquela época por diante forão tratados e reconhecidos, em todo o mundo, com o nome de Nação Portugueza". O que permitiu esta união lusitana e a consequente vitória foi o espírito de Deus e a força do braço de D. Afonso Henriques. Nas causas das desgraças lusitanas no passado, o autor diagnostica a divisão, a traição.

Madre de Deus, conhecendo bem os preceitos liberais, olhava-os com enorme desconfiança pois previa que as suas intenções eram a destruição de todas as nações: "pertendem destruir as actuaes constituições para tornar a constituillos de novo; logo pertendem destruir as Nações". Quem olhar atentamente para o panorama político internacional, e para a sua tendência para o governo único mundial, dá toda a razão a este ilustre defensor da Monarquia hereditária. Ainda em relação às duvidosas e sinistras tolerâncias dá uma lição de lógica, que todos entendem sem dificuldade: "os amigos da ordem não devem tratar com indiferença doutrinas, das quais está dependente o socego publico: Aqueles que não querem distinguir as cousas; he porque as querem confundir, ou porque não fazem caso da confusão: qualquer destas acções he reprehensivel; e ambas criminosas sendo premeditadas; pois então não se encaminharão a fins bons e honestos; dirigem-se a perturbar a sociedade".

Para aqueles que misturam o cristianismo com o diabolismo liberal, Madre de Deus também tem uma palavra a dizer: "é muito indigno que [os liberais] chamem a Jesu Christo hum impostor, de que são testemunhas cento e milhares de pessoas, que o têm ouvido, em cujo número entro eu, e queirão apoiar os seus procedimentos na doutrina de Jesu Christo!".

Segundo Madre de Deus os liberais não têm qualquer legitimidade para se apoderarem das nações: "Dai a cada hum o que he seu – he o principio geral de justiça, e base de toda a jurisprudencia: O que se adquire por meios reprovado não he de quem o adquirio, he daquelles a quem foi usurpado, ou extorquido: e he bem sabido, que as revoluções subversivas estão reprovadas por todas as nações do mundo civilisado: Esses meios não dão, nem podem dar ao usurpador direito de possuir as cousas usurpadas: taes meios sim dão posse, mas não o direito de possuir". E continua a argumentar que "Se a posse dos usurpadores lhes desse direito sobre as cousas usurpadas, então teriam hoje os Mouros direito de dominar Portugal, porque o dominárão por usurpação". Depois de desfeitas as confusões deixa ainda uma recomendação: "Obedecer a usurpadores só por evitar a própria destruição; só em quanto não há forças para reagir contra a usurpação".

A tese principal que legitima a Monarquia Absoluta parte do pressuposto de que "a Nação é a collecção dos povos, e o Rei he a Nação personificada". E logo, "os Reis de Portugal, em que a Nação está personificada, deverá exercitar estes três poderes [Executivo, Legislativo, Judicial] com a mesma authoridade com que a Nação os exercitaria se fosse hum Ente racional". E a fonte da desgraça dos povos advém logicamente da subversão: "o desprezo das leis he o cunho da decadencia das nações".

Portugal, tal como as outras nações europeias, ficou refém da hidra liberal algum tempo depois das primeiras invasões francesas, "a monstruosa Constituição de 1822 em vez de garantir (conforme os seus authores tinhão proclamado) a Monarquia Portugueza, propunha-se a destruir esta proveitosa instituição". Madre de Deus, inspirado divinamente alertava para o perigo: "que os povos nunca mais tornem a ser instrumentos do infernal império dos malvados liberaes".

As contradições liberais são astutamente desmontadas por Madre de Deus, em relação à Religião de Jesus Cristo afirma que "os liberaes a envolvem nas suas declamações, e trabalhão por apagar este Farol Sagrado construido para guiar os homens ao tremendo porto da Eternidade", e deixa um aviso de que "para que tudo seja obra da Materia, he necessario que a Materia seja infinitamente sabia e poderosa!!! mas qual he o homem, que pode conceber tão monstruosíssimos paradoxos?!...", e remata para que não haja equivocos: "a razão convence-me da existência de hum Deos Author e Supremo Legislador do Universo".

"Com effeito, não há hum só principio razoável pelo qual possa atacar-se a idéa da existência de Deos. Tão certos estão os mesmos inimigos da ordem da impossibilidade de suffocar, ou destruir esta idéa, que para os seus adeptos não desertarem espavoridos, sempre lhes fallão da gloria do Grande Architecto do Universo, que he Deos. Póde-se presumir, pelo que se tem visto, que elles tratem a existência de Deos com a mesma astúcia com que tratão a Religião e as monarquias: no seu alcorão está decretada a extinção dos sacerdotes e dos Reis; mas quando os liberaes fazem as revoluções proclamão a conservação da Religião e dos Monarcas! Assim também póde estar no seu systema de regeneração decretado o materilismo, e usarem aquelle preambulo por impostura; mas com esse mesmo procedimento provão, que reconhecem essa impostura necessária para não serem geralmente odiados e abandonados. Se eles proclamassem o atheismo quase todos os homens abominarião a maçonaria, e nunca ella tivera progredido tanto". A ideia de que o sistema liberal é obra da maçonaria irreligiosa e satânica e que o antigo regime simboliza a ordem e a religião fica mais que provada neste pequeno opúsculo oferecido aos portugueses em 1825. Seguem-se alguns fragmentos de relevância para se perceber bem o pensamento de Faustino da Madre de Deus e para que o tempo não apague a verdade dos factos:

"Hum verdadeiro e desinteressado realista não pode deixar de ser amigo dos povos".

"Eu pugno pela conservação da ordem, porque na conservação da ordem consiste a conservação dos meus semelhantes; e na conservação dos meus semelhantes está envolvida a minha própria conservação".

"Para o comum dos homens, sempre os revolucionários hão-de ser abomináveis: sempre há-de haver milhares e milhões de homens, que se levantem com as armas na mão contra os inimigos da ordem: não por amor dos Monarcas, mas sim por amor das instituições nacionais".

"Que homem há, que não lamente a perigosíssima posição dos Monarcas, que tem a desgraça de ver propagada nos seus Estados essa facção perversa?! Que homem há, que não verta lágrimas sobre os alcantilados precipícios, que cercão hum Rei sujeito a ser enganado por aquelles mesmos de quem se confia!!! Caluniado pelos indignos que o enganão!!! Ouvindo os conselhos de seus amigos e inimigos sem poder distinguir huns e outros, porque os Maçons não tem marca!!!

"Os Reis não são depravados, nem perversos: são heróes verdadeiros: não se affadigão, nem sacrificão por alguma recompensa; porque homem algum os póde recompensar: sacrificão-se e affadigão-se pela conservação e prosperidade dos povos".

"O primeiro dever dos Soberanos he cuidar na conservação e prosperidade de seus vassallos; mas he evidente, que as revoluções subversivas se oppoem a essa prosperidade e conservação".

"A voz do Presidente dos Estados Unidos ameaça a legitimidade dos governos".

"Os inimigos da ordem são inimigos de Deos; porque Deos he o author e conservador de toda a ordem: A facção liberal ou maçónica foi produzida, segundo ella mesma declara, pelos Judeos, e propagada pelos obstinados que virão e não crerão os milagres de Jesu Christo! Esses desgraçados Judeos forão os instrumentos de que se sérvio o espírito das trevas para pôr em duvida os mysterios da Redempção; logo a facção liberal he agente das maquinações de Lúcifer; e logo he inimiga immediata das obras de Deos na Terra".

"Deos fortalecerá os Portuguezes, e permitirá que sejão aquelles poucos escolhidos para extirpar a malvada facção maçónica, que por ser produção indirecta, e agente directo do espírito das Trevas, he inimiga jurada de Deos, dos Reis, e dos povos".

Bibliografia:
Faustino da Madre de Deus, Os Povos e os Reis, Imprensa Régia, Lisboa, 1825.

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