domingo, 9 de novembro de 2008

Poeta-Soldado do Império

Para o Rodrigo Emílio, trinta dias certos sobre a sua morte — um texto de Luís Fernandes:

Conheci, há mais de quarenta anos, o Rodrigo Emílio, quando na "frente da retaguarda", militávamos nos meios académicos de Lisboa contra os traidores que já então se posicionavam para dar uma facada nas costas dos combatentes do Ultramar que lutavam denodadamente, nos matos africanos, em missão de soberania.
Na capital do Império, Rodrigo Emílio, que já firmara o seu prestígio literário colaborando regularmente em páginas culturais de vários jornais diários, não limitava a sua actividade poética e política à pluma — juntava os seus punhos aos nossos sempre que alguém ousasse, na Universidade, ou fora dela, ofender a Pátria e os seus defensores: fora essa a lição que José António Primo de Rivera nos legou — quando se põe em causa a Pátria não há outro diálogo possível senão a dialéctica dos punhos e das pistolas...
Essa militância levou Rodrigo Emílio a colaborar com o Movimento Jovem Portugal, a que muitos de nós pertencíamos (e que alguns de nós, saudosamente, recordamos). Foi dos primeiros a participar no movimento mais amplo que se lhe seguiu: a Frente Nacional Revolucionária.
A "primavera marcelista" (primórdios da traição abrilina) encontrou nele um irredutível opositor. Juntou a sua voz à voz de quantos, à volta do Professor António José de Brito, se mobilizaram para fazer barreira à traição que já então, nas "altas esferas" se preparava, de mansinho, levando o País à "evolução" que hoje em dia os governantes do Rectângulo celebram.
Antes que dobrassem os sinos pelo Império (por via "reformista" ou "revolucionária") o Poeta vestiu-se de Soldado e marchou para a província africana do Índico. Cumpriu, nesse teatro de operações, e bem, o seu dever de oficial miliciano.
Como Camões, o Poeta máximo da Lusitanidade, que manejava tanto a pluma quanto a espada, Rodrigo, Poeta-Soldado do Império, continuou em Moçambique a escrever poemas e artigos em que atacava os "vendilhões" comodamente instalados na aburguesada Metrópole, ao mesmo tempo que lutava contra os "turras" da FRELIMO.
Finda a sua comissão militar, regressou a Lisboa onde passou à disponibilidade, mas nunca se considerou "desmobilizado".
E, verificando com amargura a dimensão e gravidade das fissuras que intencionalmente Marcelo Caetano, contumaz e relapso, com satânica perversidade e persistência, havia aberto no Estado Novo que Salazar laboriosamente criara, Rodrigo Emílio não desarmou e continuou a dar o corpo ao manifesto. Participou no Congresso dos Combatentes realizado em 1973 na cidade do Porto contra a vergonhosa oposição do embrionário núcleo de Bissau do MFA (Movimento das Farsas
Logo após a catástrofe de 25 de Abril de 1974, no meio da confusão gerada por esse rebentamento de um enorme cano de esgoto (uma cloaca máxima contemporânea), com lúcida e heróica teimosia, participou na fundação do único movimento político decente que surgiu durante a tempestade — o Movimento de Acção Portuguesa.
As furibundas perseguições desencadeadas pelo MFA, oportunamente apoiadas pelo entusiasmo de muitos anti-fascistas e democratas de geração espontânea (em muitos casos de conversão apressada aos novos valores democráticos) levaram-no ao caminho do exílio, porque em Madrid poderia ser mais útil à causa nacionalista, contactando outros camaradas ali refugiados, do que nas masmorras da democracia triunfante. E por lá andou, sem descanso, com camaradas portugueses, espanhóis, franceses e italianos, a prosseguir o combate nesse último reduto do Ocidente. Findo, no que restava de Portugal, o PREC da esquerda festiva, e transformando-se em restaurador da democracia espanhola o perjuro sucessor do Caudilho, Rodrigo Emílio regressou à terra que o viu nascer. Mas não se acomodou.
Persistiu na mesma fé católica e no mesmo ideal político. Ainda que a pontualidade não fosse uma qualidade que cultivasse, nunca deixou de aparecer no Porto (ainda que fora de horas) por ocasião do jantar comemorativo do 28 de Maio que, ano após ano, o Professor António José de Brito organiza e dirige.
É assim que o quero recordar — de corpo inteiro, perfilado a cantar connosco a Marcha da Mocidade, de braço ao alto.
Armadas, como ele lhe chamava).

Fonte: Blogue "Nova Frente" - post de 28Abr2004

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