quinta-feira, 10 de julho de 2008

Deserto e desertificação

via Sopas de Pedra by A. M. Galopim de Carvalho on 7/10/08
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INDO À ORIGEM DA PALAVRA, que nos chegou do latim, desertere, que significa abandonar, deserto apenas quer dizer desabitado de gente, ermo, e, portanto, inculto. Por exemplo, o Deserto Pintado, no Arizona (EUA), a seguir a escassos períodos de chuva que o atingem, revive numa explosão de cor e vida, que nega a ideia generalizada que o cidadão comum tem do deserto, um mar de areia com camelos e berberes e, algures, um oásis verdejante com palmeiras e um poço de água fresca.
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O vínculo climático dado à palavra deserto resultou do facto de estas áreas, consideradas inaptas para a agricultura, dada a sua muito pouca pluviosidade, não atraírem as populações, ficando, por isso, desabitadas ou desertas. O deserto, no sentido geológico do termo, é definido como uma região de escassa pluviosidade, geralmente inferior a 500mm/ano, e forte evaporação, pouco favorável à ocupação vegetal, animal e, consequentemente, humana. Há desertos hiperáridos, áridos e semiáridos, uns quentes e outros frios.
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A precipitação atmosférica no Sudeste do país encontra-se próxima deste limite, e esse facto está bem marcado, do ponto de vista geológico, pela ocorrência de calcretos (caliços, na linguagem popular) em vários pontos do Alentejo e do Algarve. Estas rochas, de natureza calcária, igualmente referenciadas, pelas mesmas razões climáticas, no Nordeste Transmontano, são conhecidas em muitos locais da Terra, sempre em relação com a subaridez temperada a quente.
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Estas condições climáticas não prenunciam que, nos próximos milhões de anos, o Sul do País se transforme num deserto como o Sara ou outro, entre os muitos conhecidos. Ao falarmos em desertificação nesta parcela do território, estamos a voltar à raiz latina da palavra, isto é, ao abandono das terras pelos seus naturais. Saímos do domínio da Geologia, cabendo aos sociólogos e aos políticos a tarefa de a explicarem.

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