terça-feira, 8 de julho de 2008

INTRODUÇÃO A «O IMPÉRIO COLONIAL PORTUGUÊS» DE C. R. BOXER, POR J. H. PLUMB

via NOVA ÁGUIA by Klatuu o embuçado on 7/7/08



O Império Português é um dos maiores enigmas da História. Por volta de 1480, os Portugueses tinham atingido o extremo sul da costa africana, e, ao mesmo tempo, atravessado a imensidão do Atlântico para colonizarem os Açores; é provável que, nessa altura, os seus intrépidos pescadores, juntamente com Bascos e Bretões, estivessem já instalados nos mares cheios de rochas e de peixe da Terra Nova. A Índia e a América pareciam destinadas a pertencer-lhes; na verdade, se os Portugueses tivessem dado ouvidos a Colombo, teriam tido domínio sobre os três continentes antes de qualquer outra nação da Europa. Colombo e a Espanha negaram-lhes o que a sorte parecia ter-lhes destinado; mesmo assim, em meados do século XVI, os Portugueses dominavam uma porção do Mundo e do comércio superior a qualquer outro país. A África, com as cadeias de postos comerciais e de fortes que chegavam ao Oriente e, para Sul, às costas ocidentais, o domínio de grandes portos em Ormuz e Goa deu-lhes o controlo do valioso comércio do golfo Pérsico e do oceano Índico. Feitorias em Ceilão e na Indonésia colocaram o comércio das especiarias nas suas mãos. Firmemente estabelecidos na China e no Japão, traziam para a metrópole navios carregados com as sumptuosidades do Oriente – sedas, porcelana, laca. O sonho que obcecara os homens no tempo do Príncipe Henrique, o Navegador, tinha-se tornado uma realidade. Esses primeiros exploradores hesitantes, assaltados pelo perigo e perseguidos pela morte, marcaram as grandes rotas comerciais com barcos cada vez maiores, a abarrotar de gente e de géneros, que, através de tempestades e de calmarias, seguiam imponentemente o seu caminho até aos impérios orientais.

[…]

De facto, o Império Português põe uma série de questões embaraçosas ao historiador. Por que razão esta nação pequena, bastante pobre e culturalmente atrasada, situada na costa sudoeste da Europa foi tão dramaticamente bem sucedida nesse grande século de empreendimentos que começou por volta de 1440? E por que razão se tornou este êxito uma pálida sombra de si mesmo no curto espaço de cinquenta anos? E, o que é ainda mais estranho, porque é que a posse deste império não actuou como um catalizador para Portugal? Na Holanda, na Inglaterra, em Espanha e em França a posse de um império actuou como um fermento, não só na vida económica e política da nação, mas também na sua vida cultural, na sua literatura, na ciência e na arte. Em Portugal, Lisboa aumentou e Camões escreveu Os Lusíadas. É evidente que houve maior prosperidade do que a que teria havido se Portugal continuasse apenas dependente dos vinhos e da pesca. Mas, além de Camões, há muito poucos escritores, arquitectos, pintores ou cientistas cujos nomes sejam conhecidos, a não ser por especialistas. O impacto cultural do Império Português, se bem que não possa ser ignorado, é estranhamente superficial. E, à medida que uma pessoa lê a História arrebatadora dos Descobrimentos Portugueses, exposta com brilhantismo pelo prof. Boxer, estes porquês insistentes avolumam-se cada vez mais.
Na realidade, Portugal tinha algumas vantagens naturais. Durante toda a sua existência, havia vivido à custa do mar. A sua costa rochosa, batida pelo Atlântico, aonde vão desaguar os rios que nascem no interior montanhoso, tinha, desde sempre, sido a porta aberta para um mundo mais vasto, criando uma dura e hábil raça de marinheiros, que não se deixava atemorizar pelas tempestades do Oceano.

J. H. Plumb

In O Império Colonial Português, C. R. Boxer, Edições 70, Lisboa, 1977, pp. 13, 14, 15.

NOTA
Existe edição portuguesa mais recente, com o título «O Império Marítimo Português»; entretanto tivemos uma revolução, ergueu-se um determinado modelo de democracia, com uma imensa habilidade para mudar o nome às coisas. Ou melhor dito, temos a mania de traduzir como nos convém. O título original é «O Império Português Nascido do Mar» (The Portuguese Seaborn Empire 1415-1825).

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